As aulas do curso de graduação ainda não começaram – o plano é abrir a primeira turma em 2014 –, mas cerca dois meses após a instalação do campus da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), a rotina mudou na penitenciária. "Esse é um projeto a longo prazo, mas que em pouco tempo já surtiu efeitos surpreendentes. Até na questão disciplinar percebemos a mudança. Os detentos sabem que agora eles têm novas perspectivas de futuro", comemora o diretor do presídio masculino, Manoel Eudes Osório.
O campus da UEPB foi instalado em agosto deste ano a partir de uma parceria entre a universidade e a Secretaria de Administração Penitenciária do Estado. São oito salas de aula que também vão beneficiar parte das 70 detentas da unidade feminina do complexo. O primeiro curso de graduação ainda não foi aberto porque apenas 13 apenados - de um total de quase 800 - têm o ensino médio completo e estariam aptos a fazer a graduação. "Seria inviável abrir um curso para apenas 13 pessoas, até porque é normal haver muitas desistências, em qualquer graduação, seja no presídio ou fora dele", diz a coordenadora do campus, professora Aparecida Carneiro.
Segundo a administração da penitenciária, o comportamento dos presos já mudou com as novas perspectivas de futuro Foto: Divulgação
Segundo a administração da penitenciária, o comportamento dos presos já mudou com as novas perspectivas de futuro
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Apesar dessa dificuldade em encontrar alunos aptos a estudar, ela se mostra otimista quanto ao futuro do campus universitário. Esta semana teve início um curso de preparação para as provas do supletivo e para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que será aplicado em novembro nos presídios. As duas provas podem garantir para cerca de 60 apenados inscritos nas aulas o certificado de conclusão do ensino médio. "Estamos muito otimistas com a possibilidade de abrir a primeira turma em 2014", afirma a professora.
O curso de graduação ainda não foi definido. Segundo Aparecida, vai depender de uma consulta aos detentos que estiverem aptos a estudar. Por enquanto, as salas de aula, biblioteca, laboratório de informática e o auditório são usados no preparatório e também em um curso de gestão penitenciária e direitos humanos voltado aos agentes penitenciários. "A universidade entra no presídio para deixá-lo mais humano. Os agentes também são importantes nesse trabalho", explica a professora.
Menos de 10% dos detentos estudam
O diretor da penitenciária, Manoel Eudes Osório, afirma que o complexo já oferece oportunidades de estudo aos detentos, como a escola de nível fundamental e cursos por meio do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), como o de garçom. No entanto, embora quem estuda tenha direito de redução na pena (um dia a menos a cada três dias de aula), ainda é pequeno o interesse pela educação.
"Hoje menos de 10% dos presos estudam, mas essa cultura está mudando, principalmente com a possibilidade de fazer um curso superior", afirma. "A nossa pretensão para o ano que vem é pelo menos dobrar a quantidade de detentos estudando", projeta.
A coordenadora do campus da universidade também está otimista com a adesão ao projeto. Não são todos que têm motivação para estudar, mas estamos começando a mudar esse cenário. Quando eles entram na sala de aula, percebem que não são mais tratados como presidiários, mas como alunos", completa Aparecida.
Fonte:Notícias Terra.com.br